Clamar no Deserto
( Editorial publicado pelo Diário da Região na edição de 26-1-94)
A atitude do professor Samir Barcha denunciando o descaso com os mananciais de água consumida pela população de Rio Preto, lembra histórias consagradas pelo anedotário popular. Por um lado, ele é a figura solitária que clama no deserto. Por outro, seria o santo de casa que não faz milagre. Nesse contexto em que se misturam enxurradas nas cabeceiras do rio Preto, conflito territoriais nos limites dos municípios de Bady Bassitt e Rio Preto e denúncias de poluição na represa que abastece nossa cidade, a voz do Prof. Barcha sobressai pelo equilíbrio e a clareza. E o que mais chama a atenção não é a gravidade das informações oferecidas pelo cientista, que há anos estuda as águas do rio Preto. O que espanta é a displicencia da autoridade responsável pelo principal item do abastecimento público numa cidade de 300 mil habitantes que polariza uma população de mais de 1 milhão de pessoas originárias de quase uma centena de municípios. A represa do rio Preto que responde por um terço da água distribuída na cidade está comprometida, em alguns pontos, por índices de coliformes fecais duas vezes acima do tolerável pelo padrão da Organização Mundial de Saude. O Professor Barcha reconhece que um bom tratamento torna a água perfeitamente potável, mas até que ponto isso será possível se na própria represa e em pontos acima, no rio Preto e no seu afluente, o Córrego do Macaco, a população joga de tudo na água, sem qualquer controle ou fiscalização?
É certo que o problema não é de simples resolução. Para se Ter água limpa nas torneiras, é preciso educação ambiental nas cabeceiras. Cabe ao Poder Público formular um amplo projeto, uma verdadeira campanha de educação popular, conscientizando a população de que a qualidade da água não é responsabilidade exclusiva do prefeito ou do departamento afim. Se os ribeirinhos jogam animais mortos no Córrego do Macaco, a única medida capaz de cortar o mal pela raiz é haver gente - vizinhos, funcionários públicos, policiais, técnicos em saúde pública, sanitaristas, comunicadores, professores entre outros - que convençam os ignorantes do mal feito. A falta de educação ambiental em Rio Preto pode ser medida pelo volume de lixo deixado no chão, nos finais de semana, nos arredores da famosa represa da cidade. Plástico, papel, copos e garrafas quebrados são um testemunho contundente de um comportamento extremamente desequilibrado.
Apesar da aparente falta de viabilidade de uma campanha nesse terreno - e cabe lembrar a história do sujismundo, que "popularizou "a falta de higiene na década de 70, ganhando a simpatia popular - o Poder Público não tem alternativa senão começar por aí. Simplesmente porque é investimento mais barato. Prevenir sai mais barato do que remediar. Se em saúde pública é assim, em abastecimento de água não é diferente. O Professor Barcha prova que, senão recuperar os mananciais de Rio Preto agora, a Prefeitura terá de pagar muito mais caro, depois, para implantar um sistema de tratamento de água de alto custo. Se normalmente já é um problema prioritário em qualquer administração, o abastecimento de água em Rio Preto pode ser seguramente apontado como o maior problema municipal. A Prefeitura precisa atacá-lo tanto por questão de saúde pública como por economia. E já.
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